Carlos Pessoa Filho do Invest Tech

in Brazil Venture Capital, Carlos Pessoa Filho

Conversa entre investidores: Carlos Pessoa e Mitsuru Nakayama – Parte 1

Neste capítulo, os investidores Carlos e Mitsuru falam de suas impressões sobre o mercado brasileiro de empreendedorismo.

Carlos começa a conversa contando como o ecossistema de startups encontra espaço para crescer no Brasil, no fim da década de 90.

 

Carlos Pessoa Filho do Invest Tech

Carlos Pessoa Filho do Invest Tech

Carlos Pessoa Filho: 
Carlos ajuda startups a crescer desde que o empreendedorismo de oportunidade começou a se desenvolver no Brasil, no fim dos anos 90. Como voluntário da recém-chegada ao país Endeavor, quando ainda estava na faculdade, ele passou a fazer parte do ecossistema de startups e, representando a ONG, participou do desenvolvimento do mercado de empreendedorismo de alto impacto em outros dez países emergentes além do Brasil. Hoje, lidera a divisão de investimentos em startups em estágio inicial da gestora Invest Tech, sediada em São Paulo. Foi Diretor geral na América Latina da plataforma líder de cursos online Coursera entre 2015 e 2016, período no qual a região se tornou a geografia com maior crescimento no mundo. Antes disso, ajudou a montar do zero a aceleradora Wayra, iniciativa da Telefônica, gigante do setor de telecomunicações no Brasil, para se aproximar de soluções inovadoras de negócios. Na Wayra, Carlos investiu em mais de 45 startups digitais.

 

Mitsuru Nakayama do Brazil Venture Capital

Mitsuru Nakayama do Brazil Venture Capital

Mitsuru Nakayama: 
Mitsuru é de Tóquio, Japão, e mora no Brasil há quase sete anos. Chegou ao país em 2012, como consultor da norte-americana Bain & Company, para a qual já trabalhava em seu país. Em 2014, mais habituado ao mercado de empreendedorismo do Brasil, Mitsuru fundou a Brazil Venture Capital, com o fundo focado no desenvolvimento de startups locais de tecnologia no estágio inicial do negócio. Um exemplo de startup que recebeu um aporte e mentoria da BVC é a bxblue, empresa brasileira de crédito consignado, fundada pelo empreendedor pernambucano Guga Gorenstein, cuja história é contada nesta série de entrevistas.

 

 

 

Colocando empreendedorismo no dicionário, literalmente

CARLOS: Empreendedorismo não era nem uma palavra no dicionário brasileiro no início dos anos 2000, quando comecei a colaborar com a Endeavor como voluntário, aos 18 anos. A organização sem fins lucrativos havia acabado de chegar ao país para estimular e apoiar empreendedores iniciantes, e eu pude participar do time  de fundadores, ainda na faculdade. A gente sempre se perguntava: “Como podemos defender uma causa cujo termo nem aparece no dicionário?” Foi representando a Endeavor que fomos à editora do dicionário Aurélio para solicitar a inclusão do verbete e, depois de uns meses, empreendedorismo passou a ter um significado oficial no Brasil.

Nessa época, empreendedores eram comumente chamados de empresários no país, o que podia ter uma conotação negativa. Ainda era latente a lembrança de uma inflação altíssima, nas décadas de 80 e 90 e, enquanto muitos trabalhadores eram penalizados pelas altas diárias dos preços, empresários tinham ao seu alcance a aplicação financeira chamada de overnight, que protegia o dinheiro das desvalorizações. Esse cenário ajudou para que crescesse no imaginário popular a imagem do empresário como alguém que vem usurpar, tomar vantagem. Num ambiente de juros também altíssimos, não necessariamente as empresas precisavam ter eficiência operacional para gerar lucros. Elas podiam investir no mercado financeiro e ter rendimentos consideráveis.

Foi só em 1990, quando o primeiro presidente foi eleito após um período de ditadura militar (1964-1985) que o mercado brasileiro começou a se abrir. Até então, o país só importava o que não era fabricado na indústria nacional para corrigir desvios na demanda. Dali a dois anos acabava também a lei da informática, feita pelos militares para incentivar o desenvolvimento da indústria nacional no setor. Até então, os consumidores só podiam ter computadores fabricados dentro do país e, por isso, dependiam de equipamentos ruins, defasados e muito caros . O fim dessa reserva de mercado trouxe competição, tornando o segmento mais saudável e justo.

O Plano Real, criado em 1994 para conter a hiperinflação, funcionou. E, em 1998, enfim, o sistema Telebrás foi privatizado. Antes disso, linhas de telefone eram ativos tão importantes no Brasil que as pessoas tinham de declarar no imposto de renda como um ativo. Era caro. A privatização criou o ambiente para a entrada de Telefonica, América Móvil, Portugal Telecom etc. Imagina o que isso não trouxe para o país do ponto de vista da democratização do acesso à informação. Havia 800 mil linhas telefônicas no Brasil nessa época. Hoje, são mais de 200 milhões de telefones móveis em uso no país. Esse último acontecimento, simultaneamente à abertura da economia e à inflação controlada, deu condições ao surgimento de um ambiente fértil para empreendedores iniciantes e, sobretudo, eficientes, já que, agora, a maior parte de seu lucro teria de vir do desempenho dos negócios, e não de investimentos no mercado financeiro.

É aí que acontece o boom da internet no Brasil. Começaram a aparecer as primeiras startups de tecnologia. Foi uma época muito frutífera, em que vários empreendedores hoje atuantes deram certo, apesar da pouca oferta de fundos de capital de risco no Brasil no início dos anos 2000. Podemos dizer que muitos fundos de venture capital da época tinham uma mentalidade de fundos de private equity – que normalmente apostam grandes quantias em empresas maiores – fazendo investimentos menores com alto nível de controle e mecanismos agressivos de governança.

De geração para geração / Conhecendo a Endeavor

Ingressei em 1997 no curso de Administração de Empresas da tradicional Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. Não me imaginava fazendo carreira num banco ou numa consultoria – dois caminhos bastante almejados pelos meus colegas – e por suas famílias. Meus pais não pensavam diferente. Minha mãe se mostrou bastante receosa quando decidi sair de um estágio remunerado na Multibrás, dona das marcas Brastemp e Consul. Eu havia entrado naquele estágio em 1999, um ano antes, atraído pela proposta da vaga, numa área de inovação, criada para repensar a empresa. Nessa época, eu não conhecia a Endeavor.

Paralelamente a isso, participava de um campeonato pela faculdade, o Business Case Competition, que premiava a melhor solução para o problema real de uma empresa. Meu grupo ganhou a etapa interna da FGV e chegou a representar o Brasil na fase mundial. O mentor que a faculdade nos designou para acompanhar o grupo – ganhador do campeonato interno do ano anterior -, estava começando a trabalhar na Endeavor. Foi por meio dele, Makoto Yokoo, que tive meu primeiro contato com o ecossistema de empreendedorismo.

MITSURU: A maior diferença entre empreendedores iniciantes no Brasil e no Japão no atual momento é o tempo que os separam. Há 20 anos, os japoneses também tinham essa cultura de fazer carreira em empresas grandes ou no serviço público. Era uma forma de ter estabilidade profissional. Hoje, no entanto, os japoneses já começam a olhar para as empresas com receito de depender delas. Afinal, elas podem falir. Quando cheguei ao Brasil como consultor da Bain & Company, me chamou a atenção que os funcionários cultivassem planos de ficar por muitos anos dentro da consultoria. Essa mentalidade é comum em corporações tradicionais, mas a Bain tem bastante empreendedorismo em sua cultura. Em 1998, quando entrei na Bain do Japão, as pessoas já apostavam em quem ia sair primeiro para começar o próprio negócio. Entendo que seja assim, porque, no Japão, já era mais fácil para empreender. Mas vejo que, no Brasil, o ecossistema evoluiu bastante de alguns anos para cá.

Fale mais sobre as iniciativas da Endeavor para reunir empreendedores no início do anos 2000 e sobre a Wayra.  

CARLOS: Percebendo um número considerável de pessoas trabalhando separadamente no ou para o setor de empreendedorismo, a Endeavor começou a trabalhar para reunir esse pessoal. O primeiro evento, em 2000, foi um sucesso, divisor de águas no setor, o Jungle Training. Era uma espécie de Bootcamp de empreendedorismo para redesenhar planos de negócios. O Paulo Veras, co-fundador da 99, diz que conheceu a Endeavor assim. Na mesma época, a organização passou a fazer também workshops gratuitos e conferências anuais para empreendedores. Fizemos umas oito edições. Teve também um livro publicado, “Como fazer uma empresa dar certo num país incerto” com lições e aprendizados de dezenas de empreendedores brasileiros. Depois, em parceria com a revista Você S/A, promovemos o Prêmio Empreendedores do Novo Brasil. Queríamos que as pessoas pensassem em empreender como uma opção legítima de carreira. A ideia era mudar o mindset de quem estava nas grandes empresas, para que começassem a entender o setor e a contemplá-lo.

Fiquei na Endeavor por sete anos, de 2000 a 2011, quando a unidade no Brasil foi considerada a melhor operação da ONG globalmente. Meus últimos anos lá foram bastante desafiadores. A fundadora da Endeavor planejava abrir novos escritórios pelo mundo do padrão de excelência do brasileiro, e me chamou para ajudar, já que eu estava na organização desde o início no país. Mudei-me para Nova York, depois ajudei a montar escritórios em vários outros lugares: Jordânia, Egito, Turquia, África do Sul e Índia. Foi uma experiência incrível. Os desafios dos empreendedores de outros emergentes são muito similares aos nossos.

Aceleração no Brasil / começando a Wayra

Muitas aceleradoras apareceram no país em 2011. E, diferentemente das incubadoras, já conhecidas e exploradas pelo setor de empreendedorismo do país, elas tinham metas mais agressivas oferecendo capital e mentora para ajudar negócios a crescer rápido. Normalmente, com participação acionária nas startups e resultados relevantes num prazo mais curto de tempo. À época, novas startups começavam a crescer em linhas importantes de negócios do setor de telefonia. A Telefônica, gigante do setor, percebeu que precisava chamar alguém de fora, com uma visão diferente do grupo, e penetração nesse ecossistema de inovação para ajudar numa transformação digital. Durante bom tempo, as receitas principais para uma empresa de telefonia vinham de anúncios publicados nas listas telefônicas, venda de pulso telefônico, cobrança por SMS, 3G e ligação internacional. Do dia para a noite, a internet comeu essas linhas de negócio. Em dez anos ninguém mais precisaria de lista de telefones, “daria um Google”. Ligação internacional? Para quê, com Whatsapp e Skype? Foi aí que nasceu a Wayra. Aceleradora que a Telefônica me chamou para construir a iniciativa no Brasil do zero. Foi o primeiro programa de aceleração corporativo do Brasil.

 

 

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